quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Rede

Ele não usou lenço hoje, não leu jornal, não penteou os cabelos, não colocou o suspensório. Não saiu, não sorriu e não comeu. Ficou deitado na rede de pijama azul, olhando para o tempo, contando as nuvens, lembrando-se dos eventos que naquele dia rechearam a sua agenda.

Não quis ir, quis ficar aqui esperando o sol se por. Há muito tempo não parava para olhar o por do sol. Casa, trabalho, trabalho, escola, em um ritmo indeterminado. Hoje lhe deu férias, não fez a barba, não cortou as unhas, não trocou ‘bom dia’.

Deitou ali, sem pensar nas horas, sem lutar com o trânsito, sem contar os dias. Ficou sem internet, sem celular e sem TV. Escutou o silêncio, sentiu o vento e não parava de bocejar. Era homem, era natural, era um ser tão ser quanto outro ser.

Olhou sem pressa, respirou tranquilo, não franziu a testa. Descansou, sentiu no corpo e na mente o alívio de ainda ser gente. Gritando por de trás de uma casca moldada a ganância ainda existia uma alma, sufocada pela corrente crescente pra frente de uma futilidade sem fim. Carente alma de simplicidade e amor, exibindo seus raios puros no balançar de uma rede em um dia sem horários, sem medo, sem lente e sem dor.

Jonatas Pierre

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